A questão inicial: Trabalhar no que dá dinheiro mas não gosta ou trabalhar no que gosta mas não dá dinheiro? Esta dúvida atormenta a grande maioria no início da carreira e muitas vezes perdura até o fim da vida…
Para os garotos mais afortunados, no momento da decisão o pai se oferece para pagar um curso de Direito, enquanto o mancebo quer fazer História ou Letras, por exemplo. O pai geralmente apela: você quer ter sucesso em algo que odeia ou ter fracasso em algo que ama?
Para os menos afortunados, no momento da decisão ele está sozinho. O pai, quando presente, mal pode lhe orientar, sequer ajudar com qualquer recurso, a decisão é pelo emprego que lhe aparece (se aparece), e o estudo, se possível será a noite, na escola mais barata, e no curso que tiver vagas.
Como resultado muita gente está trabalhando em cargos e funções que, se pudessem realmente escolher, não estariam. Mas como precisam de dinheiro e da segurança, lá permanecem. Pergunta: que tipo de resultado teremos em uma empresa onde a maioria das pessoas realmente não gosta do que faz?
Oriundos de um sistema educacional de péssima qualidade, sem recursos materiais e sem professores de qualidade, nossos jovens estão destinados a chegar ao mercado de trabalho mal preparados tanto para o trabalho quanto para a vida.
Uma escola que não ensina a pensar e está presa a uma grade curricular antiga e incompleta somente pode causar desgaste e desmotivação aos poucos que ainda se aventuram a continuar a estudar após iniciar a trabalhar.
Todo mundo concorda que as empresas vencedoras precisam de pessoas que, motivadas, vistam a camisa, se esforcem e estejam medianamente realizadas no trabalho.
Este é um conceito antigo, tão antigo quanto o próprio trabalho. Mas é um dos conceitos mais desrespeitados no mundo corporativo. Habilidades, talentos e vontades desperdiçadas em posições desinteressantes, tarefas estúpidas e salários ridículos.
Talvez a origem desta situação esteja ligada a cultura latina, da qual fazemos parte, onde a concepção do trabalho sempre esteve ligada a uma visão negativa, enquanto não ter que trabalhar sempre foi o seu oposto… seria a “vida que pedimos a Deus”, “ah, quem me dera ganhar na loteria!”.
Falando em Deus, conforme a bíblia, Adão e Eva viviam felizes até que o pecado provocou a sua expulsão do Paraíso e a condenação ao trabalho com o “suor do próprio rosto”, e Eva ganhou de lambuja o trabalho de parto.
A palavra trabalho vem do vocábulo latino TRIPALIARE, do substantivo TRIPALIUM, aparelho de tortura formado por três paus, ao qual eram atados os condenados ou presos animais difíceis de domar. Daí a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena, labuta.
Outra característica que acompanha o trabalho desde sua invenção é o valor inverso, isto é, quanto mais pesado ou manual é o trabalho, menor é o seu valor. Quanto mais suor ele causa, menos dinheiro ele vale.
Não é à toa que a maioria das pessoas procuram desenvolver formas as mais variadas de trabalhar para ganhar dinheiro e depois, conforme a evolução social nos ensinou, buscar formas de ganhar o mesmo dinheiro sem ter que trabalhar para isso.
Quanto sofrimento, quanta energia perdida por algo que é inerente ao ser humano: o trabalho. Deveríamos procurar um trabalho que nos desse um mínimo de prazer, de sentimento de realização, de contribuição com a sociedade.
O universo é dinâmico e nós estamos inseridos na lei do movimento que rege o cosmo, portanto, lei da atividade, do trabalho que não é um castigo, mas uma dádiva dos deuses para evolução do homem na face da Terra.
As empresas modernas já perceberam isto tudo a algum tempo e por isso buscam novas formas de administração das pessoas, vistas somente agora (tardiamente) como seres humanos, dotados de talentos, sonhos e desejos…
Estas empresas sabem que um indivíduo que faz o que gosta em um ambiente apropriado tem muito mais chances de fazer certo da primeira vez, fator fundamental de sucesso em uma organização.
Através do trabalho o homem transforma a natureza, a si próprio e aos companheiros, pois esta é uma atividade essencialmente social, na maioria das vezes desenvolvida coletivamente, que altera a visão que ele tem do mundo e de si mesmo.
Por isso pior do que trabalhar em algo desagradável é não poder trabalhar pela falta de oportunidades de trabalho, tão comum em nossa sociedade atual. Muitos jovens em início de carreira e muitos profissionais já experientes se debatem com a absoluta falta de empregos e ocupação, por mais desinteressantes que sejam.
Diariamente escrevemos a história de nossa própria vida, uma história de conquistas, fracassos e descobertas. Através de erros e acertos descobrimos qual a verdadeira contribuição que podemos dar ao mundo. Que tarefas podemos gostar de cumprir, que conhecimentos necessitamos adquirir, que trabalho conseguiremos fazer.
“TODO TRABALHO TRABALHA PARA FAZER UM HOMEM AO MESMO TEMPO QUE UMA COISA”, Emmanuel Mounier. Assim, “SOMOS O QUE FAZEMOS, PRINCIPALMENTE, O QUE FAZEMOS PARA MUDAR O QUE SOMOS”, Eduardo Galeano.
Pessoas felizes são as que cedo descobrem e usam seus talentos para trabalhar. Estas tem mais probabilidade de ter sucesso. Por consequência, não é o dinheiro que traz a felicidade, mas a felicidade que traz o dinheiro.
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